Cristina Ribeiro - Prosa & Verso
"Eu sei que canto e a canção é tudo" - Cecília Meireles
Textos
História Comum
Ele jogava na retranca.
Ninguém sabia o seu itinerário,
pois ele tinha vergonha
de mostrar a fragilidade
que escondia a todo custo
em nome de uma fachada
que sempre ruia à noite
no fundo mágico do quarto.

Mas, um dia, o despertar atrasou
e todos souberam o resultado do jogo
nos copos, na cabeceira,
no álcool impregnando o  quarto.
Todos souberam o resultado
no veneno revólver do lado.
Todos leram, viram o retrato.

Mas na tarde, que antecedeu à noite,
ninguém sabia o que ele era,
ninguém viu seu coração tão frágil,
bêbado batendo doido
sua vontade, seu fogo.

Ninguém percebeu
que ele fazia versos
e cantava quieto
pra ninguém do lado.

Ele jogava na retranca.

Cristina Ribeiro R
Enviado por Cristina Ribeiro R em 18/05/2010
Alterado em 10/03/2025