Cristina Ribeiro - Prosa & Verso
"Eu sei que canto e a canção é tudo" - Cecília Meireles
Textos
A matemática das relações
A matemática das relações

          Ninguém precisa ser bom em matemática para saber que os resultados dos cálculos mais simples e possíveis desse planeta são (1), (0) e (2-1). Um tanto raramente, também é possível efetuar (1+1). Este cálculo é lindo e até poderia nos salvar. Mas muitos preferem, para as suas próprias vidas, calcular a raiz quadrada de qualquer coisa vezes (b-a) sobre (xun4_y) vezes (A elevado a x-1). Traduzindo a coisa toda em palavras, isso equivale a dizer que a vida funciona na base do que diz a frase: Deus por todos e ninguém quer nada com ninguém.

          Ser (1) ou (2-1) e ter (0) tem sido a grande matemática de todos nós. E, geralmente,  efetuamos o nada, no meio de milhões de todos e de tudo, em que a grande maioria não tem, não é e nunca foi. A subtração é, sem dúvida, a operação mais possível no mercado comum da vida humana. Quer dizer, me refiro a questões afetivas/emocionais. Quanto às questões materiais, haja zero!

          Muitos dizem ser amigos. Mas, nesse caso, a amizade é apenas uma palavra  que nunca sai da boca. Não passa dali, porque é algo que se inclina mais para a subtração do que para adição. Porque os envolvidos não praticam nenhuma soma. Não se encontram, não se sentam à mesa, não trocam e nem agregam nada.

          E o que é ser amigo? Pegar um telefone e dizer alô? Incomodar uma pessoa com um "bom dia" no WhatsApp e ver que todos os passos dela caminham para uma direção totalmente oposta ao nosso mundo? E o pior, concluir que não existe um lugar pra gente na vida daquele "amigo".

          Tenho conhecido muito a matemática dos interesses questionáveis em que os elementos desejados giram em torno dos egos. Poucos são aqueles que se interessam em doar. Quando se trata do outro, o ser-humano é estático. Dificilmente, ele é capaz de caminhar gratuitamente na direção de alguém, se não tiver um interesse individual que implica realização de alguma coisinha muito própria, relacionada a seu  ego. No mais das vezes, ele caminha na direção de si mesmo. E a coisa não passa do pronome EU.

          Isso tudo vai se mesclando a um teatro, em que as coisas funcionam na base da ficção. E o resultado final significa estar completamente só e arrastar um bonde diário, no meio de um milhão de críticos que ainda se acham no direito de dar pitaco em um "modus vivendi" que arquitetamos durante uma vida inteira. Aí, sim. Isso é uma soma possível!

          Desde criança, eu revelo uma vocação muito grande no campo das Letras. A matemática nunca foi meu forte e nunca me atraiu. Ao contrário das palavras, os números não têm alma. Mas, uma coisa é certa, a matemática não engana. Quando se trata de laços, lutas e trocas, fica evidente que o resultado é zero. Pra que se enganar?

     A grande jogada de todos é a subtração, dessa vez com o nome de exclusão. Nesse caso, o melhor a fazer é sair de fininho. Chorar é uma opção. Melhor ser louca: dar um ré na coisa, fingir que é sol e cuidar de si pra não provocar dó. O mi e o fá foram, propositalmente, subtraídos dessa equação musical dramática.


                                   ‐ X-

• Mania de escrever é um problema. Comigo, felizmente, as coisas não são bem assim. Fiz esse texto com base no que vejo por aí.

Cristina Ribeiro R
Enviado por Cristina Ribeiro R em 17/09/2017
Alterado em 05/02/2025