Essa coisa de ser mulher
Todo homem deveria experimentar, pelo menos uma vez por ano, como é essa coisa de ser mulher.
Somos mães de todos os machos do planeta. E daí pra nós? Não temos crédito algum. É preciso sempre ter uma figura masculina de frente para obtermos sucesso em qualquer empreitada e para sermos respeitadas. Somos um bagaço; aquelas criaturas que precisam sempre chegar com a fala mansa e, de preferência, com a espinha encurvada pra não demonstrar arrogância.
Ser mulher é viver presa em molduras, obedientes a inúmeras convenções sociais que parece terem sido decretadas só para nós. Nada de ser natural. Uma mulher precisa de um cabelo assim, uma pele bronzeada e veludosa, curvas, protuberâncias e o raio que o parta. Experimenta ir ao trabalho sem um tal baton ou um par de brincos... tenta calçar algo que não combine com o vestido. Não interessa a dor no pé. Uma mulher não pode andar assim. Deve se arrumar para arranjar um marido e esperar uma eternidade pelo convite porque é feio tomar iniciativa. É preciso entrar na vitrine e fazer pose. Quem sabe você se torne a Penélope de algum Ulisses, quem sabe algum homem você conquiste. Mesmo que ele não venha pra somar, mas subtrair até o brilho da sua alma ou arrancá-la do seu corpo se for preciso.
Somos submetidas sempre. Isso não para. Uma mulher tem que deixar de ser ela própria pra conseguir ser qualquer coisa: um engodo, uma mentira. Estou tão enojada que não aguento mais pôr os olhos em nenhuma Anitta ou qualquer outra celebridade moldada nas clínicas estéticas e centros cirúrgicos.
As mães já nos preparam desde cedo para um projeto doméstico. Segundo um jovem psicólogo, que vi no YouTube, compete ao homem ganhar o dinheiro. Não passa pela cabeça desse reaça-retrógrado nenhuma ideia de compartilhamento de tarefas. Ele estudou onde pra isso? Limitou-se a algum manual psicótico escrito na idade média?
Sinceramente, é tudo tão revoltante que dá vontade de extirpar, do corpo, todo e qualquer traço de gênero. Andar por aí como um ser não identificado.
Tanta postura romântica nós temos, tanta preocupação com detalhes tão invisíveis quanto inúteis, pra quê?
Para fazermos o papel de ridículas?
Cristina Ribeiro R
Enviado por Cristina Ribeiro R em 31/12/2024
Alterado em 31/12/2024