"Ele ajudava todo mundo!" foi a frase que eu mais ouvi dos colegas em 18 de fevereiro, um dia muito triste para todos nós no trabalho. Grande parte conviveu com ele por 20 anos ou quase. E desde o pessoal da limpeza até o diretor da Unidade, era só gratidão o que se via nos olhares lacrimosos de luto.

          Pontual, atento, didático, tornou-se um cardiologista experiente, tal o número de pacientes atendidos ao longo da sua carreira. Generoso e caridoso, além das medidas, costumava socorrer até os antigos funcionários aposentados e seus parentes, sem nunca demonstrar um mínimo de contrariedade pelo atendimento fora da marcação no Sisreg.

          Enquanto lamentavam sua partida, eu me lembrava do seu último aniversário entre nós. Nesse dia, nos abraçamos com tanto carinho. Senti que foi com muitos braços que o ajustei no meu peito como se convivêssemos há séculos. E foi muito bom conhecê-lo. Porque é bom saber que esse tipo de gente e de profissional existe, sim.

          Sua passagem foi de um dia para o outro. Produto da arbitrariedade dessa coisa que ameaça a vida e  vive entre nós subtraindo, abduzindo nossos entes queridos e amigos, mas sempre nos despertando para a direção do que deve mesmo ser importante e deve ser posto na ordem das coisas a fazer, pensar, sentir. Esse é o forte da morte que nos faz perdoá-la por seus crimes, ela nos faz perceber como um bem do universo passa sem que seja notada a sua real grandeza. Muitos recebem medalhas; com elas, se agigantam em projetos megalomaníacos, mas só o poder da conquista através de um trabalho executado com dedicação, seriedade e amor é que pode tornar alguém merecedor de um pódio permanente.

          Não importa se há ou se não há um depois. Importa o que ele deixou escrito na história de todos  que o procuraram chorando, incomodados por dores, e foram  socorridos com amor e um sorriso. Importa é que além de ético, ele também foi magnético. Amigo de todos. Aposentado o seu estetoscópio, espero que sua trajetória, marcada pela dedicação ao ofício da cura, inspire futuras gerações de profissionais de saúde.

          Obrigada por tudo, Dr. Evandro!