Amor Galáctico
Eu pensei em escrever uma carta, mas quem ainda faz isso? Melhor um e-mail, um relato no Facebook em segredinho, configurado com os nomes dos envolvidos, na edição de privacidade. O tema seria: gravidez nas entranhas - um estado avançado de quem vive sob um manto reluzente, após ingerir - e nunca mais expelir - o néctar do encanto. Com o auxílio luxuoso da hemoglobina, o efeito permanente é distribuído em cada célula do corpo e tá feito, jurado e sacramentado na alma o fenômeno. Chamam isso de amor - o oxigênio da alma, o maior monumento espiritual da Terra!
Eu gosto muito dele porque ele me move, me tira do lugar, me impele a navegar em busca de um mundo novo. Por ele, eu escalaria as mais altas montanhas geladas de Edelweiss só para colher uma estrela alpina e entregá-lo com as piores intenções. Depois dos Alpes, eu mergulharia no seu peito quente para derreter meu lado nórdico até brotar minha primavera e nos cobrirmos de flores. Seu corpo é uma ode a Eros, é de uma beleza ímpar definida por um fulgor atmosférico e um véu sedutor que o envolve... seus olhos têm um pôr do sol permanente. Quando ele sorri - e ele não tem um riso fácil -, eu tenho vontade de escalar todas as suas retas geográficas até alcançar suas grutas forradas de veludo. Se um dia ele focar o olhar em mim novamente, caso eu não desmaie, vou arrastá-lo para Punta del Este, onde andaremos de mãos dadas pela orla sorrindo e sussurrando coisas inconfessáveis. Ele me faz volver a los 17...
A primeira vez que o vi, tive apenas cinco minutos da sua imagem real. No mais, fui uma presa fácil de frágeis serpentinas loucas que me enlaçaram, enquanto me distraía com a coreografia fulminante do bailarino. Preciso falar disso tudo a ele... falar do meu lado nórdico, do meu lado gótico, erótico e agitar esse mar-amar-morto que não sai do lugar, talvez me afogar no seu mais profundo rio. Preciso tê-lo... fazer um tour em tudo aquilo e uma leitura em braile naquela pele de seda.
Mas, não. Eu não devo escrevê-lo. Ele pode não responder nem ler, mandar dizer que não está. Melhor até ficar longe e evitar a sensação de caminhar para o meu próprio velório, o pior de todos: o de quem permanece vivo, mas morto, vendo o seu amor passando e, exclusa, não poder acompanhar. Isso é uma morte em vida, é autoflagelação, é a desconstrução do monumento mais galáctico do mundo. E matar o amor é uma espécie de iconoclastia.
Cristina Ribeiro R
Enviado por Cristina Ribeiro R em 03/03/2025