É tanto problema nesse país, tantos comportamentos inadequados que esse negócio de pátria acabou desaguando em um rio de decepção no meu lado venoso. Meus pais e irmãos já se foram, e eu não tenho mais porquê manter o cultivo dessa raiz. Sou alguém deste planeta. Alguém que ama o ar, as cores das coisas e o vento me beijando a pele e dançando com os meus cabelos. Também gosto muito de ver o mar. Todo acúmulo grande de água azul é um convite a navegar e eu vou...  Toda vez que eu olho a mesma praia, até mesmo a Baía de Guanabara, é como se fosse a primeira vez. E o que eu sinto, ainda não consegui decifrar. Quando olho as águas em toda sua extensão, eu mudo, chego a me sentir anormal a ponto de recriar o ambiente, imaginar possíveis recônditos e seres na linha do horizonte... que doida!

          Então, na verdade, eu amo a natureza e teria paisagens lindas e muito mar em todo o planeta. Não preciso ficar pregada aqui. Até porque, estar em todo lugar, é uma questão de clique. Não viveria, de jeito nenhum, em certos países, onde a guerra não tem fim; quero pôr mais palha no fogo da minha existência e  fazer mais, ver mais, aprender mais, criar... e quero paz!

          Falta pouco pra minha aposentadoria e, dependendo, vou enfiar meu nariz em outra atmosfera. Quem sabe? Às vezes, a felicidade pode ser uma questão local, de cidade, em outra terra. Cansada das cuias brasileiras... Cansada de uma aglomeração de dentes querendo estraçalhar o mesmo pedaço suculento de sonho. Não é por nada, não. É só o tempo trazendo uma  sede global.