Cristina Ribeiro - Prosa & Verso
"Eu sei que canto e a canção é tudo" - Cecília Meireles
Textos
O Autor e o "Eu lírico"
          A vida de quem escreve pode ter lá seus percalços porque, além da produção textual ser complexa, é muito comum a confusão do leitor com o eu lírico e o eu do autor. Ignorar uma protagonização a nós atribuída não é tão simples. É como se o processo criativo original sofresse uma restrição.

          Sou sempre a culpada, a doente, a neurótica, a bandida... Já fui diagnosticada, quando falei de doença; encaminhada ao psiquiatra, quando falei de depressão; acusada, quando falei de política e ridicularizada, quando falei de amor. Mas quase não vi uma genuína interpretação de texto que pontuasse as diversas nuances e sacadas implicadas em cada parágrafo das prosas ou versos dos poemas que escrevo.

          No entanto, é de se imaginar que quem escreve costuma burilar seu texto até a última sílaba, empregando nele figuras de linguagem, humor, sensualidade, jogadas lúdicas e até sabedoria. E dependendo do talento - como é o caso de grandes escritores consagrados da literatura -, a possibilidade de se encontrar mil achados literários já é motivo suficiente para o leitor não perder tempo com curiosidades que não vão alterar nada do que foi escrito. Por mi parte, devo admitir que, ultimamente, ando transbordando em minhas teclas tudo o que não cabe em mim. Por supuesto, tenho sido uma protagonista de muitos "uis" e de alguns "ais" nas minhas cantilenas sinestésicas, sensualistas. Que mal há nisso? Pode existir muito de nós no que escrevemos, mas isso não é tão importante naquele exato momento em que um universo desponta de um lugar inesperado que nem existe e, por isso, deve ser explorado em cada passo da leitura.

          Um texto pode ser um grande porta-joias repleto de preciosidades que nos faz volar... volar... e atravessar portais. As palavras têm alma e podem viabilizar o transporte do leitor para uma outra atmosfera impregnada de magia, luzes, cores, nuvens e até melodias. Não seria mais interessante romper o gesso da razão, deixando as asas conduzirem o voo?

          Esqueçam o autor.
Cristina Ribeiro R
Enviado por Cristina Ribeiro R em 04/04/2025
Alterado em 05/04/2025