Mea culpa?!
Certa vez... não gosto de começar texto assim; sou, imediatamente, abduzida por "Over The Rainbow", e isso me desfoca. É o causo do indígena - vamos começar desse jeito - que confessou ter sonhado comigo. Falou assim, do nada. A expressão dele não era de um nativo romântico; era uma dessas caras que, às vezes, faz um homem quando quer nos dizer gracinhas. Eu não gostei, não, mas tudo bem; não estava lá quando ele acordou, graças ao bom Tupã e a todos os Princípios divinos do universo. O cara era muito grande...
A conversinha do sonho foi em um comércio que montei, num tempo em que tive de entrar em cena na vida financeira da família. Por conta disso, não tava no script, mas eu sempre tinha que passar esse tipo de texto com um cara em todas as cenas do local e também da minha vida inteira até hoje. O fato é que, na cena seguinte, depois de empacotar uns produtos de um cliente, ao entregá-lo, ele me perguntou, na lata, depois de fazer aquela pausa de Gru, o Meu Malvado Favorito: "- Por que você tá me olhando, assim, com esse olhar de peixe morto? É... eu tenho um olhar pesado, estranho... não chega a ser um olhar de Beth Davis, é um olhar, meu mesmo, que pode confundir, principalmente, os tipos que tomam um grau, de vez em quando, como foi o caso do freguês.
Seguindo, essa já aconteceu no ônibus, em um dos meus retornos à casa. Ao passar na roleta, o passageiro anterior, ainda inesperadamente muito próximo de mim, deu uma guinada com o braço para esfregar o cotovelo na maciez do meu conforto mamário. Vendo que eu não gostei, resmungou que todas nós já fizemos aquilo e mais um pouco e ainda ficamos de gracinha com uma brincadeira tão fofinha...
Agora, parece que eu estou encenando um documentário, até certo ponto, grave, muito sério mesmo. Mas que fique entendido: eu não moro mal, o meu condomínio é caro, o financiamento pior ainda. E ainda digo mais: moro próximo de escolas, comércios, Corpo de Bombeiros e até de um batalhão da polícia. Mas o síndico, que não quer nada e sabe que no meu apartamento só tem duas mulheres, cujos próximos partiram pra nunca mais, costuma me dirigir as piores falas que algum homem já teve a ousadia de cometer. Sou muito caseira e minhas atividades principais se resumem em leitura e produção de textos. Amo fazer isso desde pequena. Ocorre que os meus vizinhos são dionisíacos demais. Não sei o que eles bebem. Parecem estar sempre acordados, pois os ouço de manhã, tarde, noite e, principalmente, nas madrugadas, quando costumam estar mais acordados do que nunca. Um dos apartamentos até repercutem instrumentos percussivos, até às 4 da manhã, em todos os ambientes do meu apartamento. O síndico? Parece um peixe: nada... Deu pra me ameaçar com o tráfico.
Beleza... se eu sumir, sabem cumé, né? O problema da mulher no mundo... putz! O problema do Rio de Janeiro... abafa o caso.
Cristina Ribeiro R
Enviado por Cristina Ribeiro R em 14/04/2025
Alterado em 15/04/2025