Bicho da Seda
Sonhei que estava num filme surreal. Às vezes, love story... ficção científica... Eu era uma larvinha dengosa, tecendo, com os fios da minha paixão sedosa, uma escultura emaranhada em torno do teu corpo. Em locomoção ondulante, rastejava por milímetros lúdicos nos teus traços lindos, em busca de pontos turísticos. Sem pressa, fui atingindo das tocas aos montes.
Quanta energia em nossos abraços... De dois, passamos a uma fusão de amantes; diamantes burilados por um sentimento vívido, vivido, fecundo. Foi preciso horas para flanar teus espaços privados só para mim. Não foi fácil. O dom da maciez da sua pele de seda atrasava a viagem, despertava outros apetites...
O amor, como a fome e a sede, é uma jornada de inconclusão permanente - uma liberdade escrava de um tonel sem fundo, como o que as Danaides eram obrigadas a encher. Só a claquete do tempo pode encerrar o manancial que brota de uma eterna fonte que jorra involuntariamente. É preciso um elemento externo para apagar a chama.
O ponto surreal dessa viagem está no fato de que o bicho da seda é uma larva de mariposa. Mas, no meu sonho, foi diferente: virei uma linda borboleta e saí voando até alcançar os céus do seu continente.
Cristina Ribeiro R
Enviado por Cristina Ribeiro R em 18/04/2025
Alterado em 18/04/2025