Em 1978, vi Elis Regina cantar ao vivo pela primeira vez. Foi no Teatro Ginástico, no show "Transversal do Tempo". Eu tinha 21 anos.

          Meninos, eu vi! Eu assisti a cada movimento dessa cantora, ouvi seus agudos e graves perfeitos... mesmo assim, diante da mega performance de uma artista gigantesca, eu não acreditei no que testemunhei.

          Me lembro de sua mão, com uma linda luva, abrindo uma nesga da imensa cortina do palco, quando o show começou. Ao piano, César Camargo Mariano tocava os primeiros acordes de Fascinação. A cortina foi abrindo lentamente e Elis surgiu como uma Deusa diante do público. Foi, sem dúvida, uma espécie de arrebatamento, o eclipse de tudo.

          Em um outro momento do show, foi a hora do espanto. Ela cantou Corpus, do Ivan Lins e Vitor Martins. Essa canção tem muitos agudos, mas ela conseguiu atingir todas as notas,  correndo de um lado pro outro, enquanto um foco de luz tentava pegá-la até a nota final da música. Quando ela concluiu sua interpretação, finalmente, iniciou outra, sem demonstrar a mínima ofegância, mostrando a todos os presentes o que é o domínio do diafragma.

          Eu poderia enumerar mil outras proezas da Elis nesse show, mas prevaleceu a emoção que ela nos passou, através de cada melodia. E eu saí do teatro com o peito arrebentado, certa de que jamais esqueceria aquela noite com uma das maiores cantoras do planeta: Elis Regina!

          Que sorte estar ali, naquela transversal do tempo!