"Longe, longe, ouço essa voz
          Que o tempo não vai levar."*

          Não sei quantas vezes eu chorei com o canto da Nana Caymmi. Ainda era uma menina quando um banho de lágrimas lavava todo o meu ser ao escutá-la.

          Tudo começou com "Acalanto", música que Dorival Caymmi, seu pai, compôs para niná-la. Depois, prossegui com o choro em cada nota emitida por ela nas inúmeras canções lindas do seu repertório.

          Chorei com "Branca Dias"
          Morri com "Pois é...", "Dora"...
          Me desmontei com todas as suas interpretações.

          Mas o meu choro não tinha nada a ver com dor. Era de êxtase que eu morria.

          Nana era emoção, era uma voz triste e bela, era música de qualidade. Era outro patamar que me garantia um lugar nas pontas reluzentes de algo indecifrável.

          Mas, agora, sim, é por uma imensa dor que eu choro. Além de essa ruptura despertar tantas perguntas adormecidas na alma.

          Aceitar a sensação do "nunca mais" é muito difícil.

          Mas ficaram os registros do seu canto. Infelizmente, foi com ela a minha expectativa de uma próxima aparição que me levaria a um universo de alumbramento.

*Fragmento da canção "Sentinela"
Composição: Milton Nascimento / Fernando Brant