Cristina Ribeiro - Prosa & Verso
"Eu sei que canto e a canção é tudo" - Cecília Meireles
Textos
A história do Barba Azul
          Quando eu era criança, uma senhora me contou a história do Barba Azul. Era um sujeito estranho que tinha um quarto e uma chave que, se usada, a entrada no cômodo ganhava logo um título: "Entrou, morreu". Por isso, ele casou muito. Sempre que chegava em casa, notava que as pobres curiosas usaram a chave  e "pow!".

          Mais tarde, muito curiosa também, descobri que essa narrativa é de um conto escrito, em 1697, por Charles Perrault. E é, no mínimo, muito curioso ver que as pessoas contam essa hediondice para crianças com a maior naturalidade.

          Por conta de causos assim, eu nunca tive coragem de botar meus pés num cartório. Lembrava do Barba e botava o casório de molho. Eu queria, claro, preservar a minha curiosidade, né?

          Nunca parei pra contar, mas morreram muitas mulheres desde minha infância. E de todas as classes sociais. Eu, não. Ainda faço parte do clube das solteiras vivas. Mas não é fácil... De alguma coisa, a gente acaba morrendo, nem que seja de vergonha. As comprometidas ficam agitadas, doentes, coitadas.  Basta um pedaço de saia atravessar uma porta e elas detectam nossa presença. Imediatamente, enfiam na gente os olhos e a boca em um ouvido de uma amiga. Pela expressão de ódio, dá pra ver logo o que ela diz:

          "- Essa vagabunda vai transar com meu marido!"

          Eu poderia dizer que acabou aqui a história, mas tem muito marido pela frente... e como tem porta!

          Mas chave que é bom...

          Bom?!

Cristina Ribeiro R
Enviado por Cristina Ribeiro R em 10/05/2025
Alterado em 12/05/2025